PESQUISA ANALISA CANTO DAS AVES EM BUSCA VIDA

PESQUISA ANALISA CANTO DAS AVES EM BUSCA VIDA

O Condomínio Busca Vida (CBV) está sendo uma das áreas analisadas por uma pesquisa que busca compreender os efeitos da poluição sonora no canto das aves. De acordo com o estudo, áreas com alto volume de som, como o entorno dos aeroportos, provocam mudanças na forma de cantar e no comportamento das aves. A escolha do CBV foi feita baseando-se na disponibilidade de áreas com vegetação nativa dentro do condomínio e no fato de a área não ser afetada por ruídos tão intensos, como o de ambiente aeroportuário, o que permite que as aves cantem sem se preocupar com interferências.

“Costumo comparar as aves do meu trabalho com humanos. Quando nós humanos estamos submetidos a ruídos intensos e constantes, precisamos modificar nossa fala –principalmente altura da voz, para conseguir manter a comunicação. O mesmo ocorre com as aves, mas elas possuem algumas outras estratégias para lidar com o ruído”, afirma a pesquisadora Renata Alquezar, que faz o doutorado na Universidade de Brasília. Ela explica que Busca Vida não é uma área tão silenciosa como um Parque Nacional, isolado de rodovias e pessoas, pois possui alta atividade de carros, caminhões e motos durante o dia. Entretanto, o período de maior importância para a pesquisa é o amanhecer, quando há pouca movimentação no condomínio.

O trabalho foi realizado nos meses de dezembro de 2015 e janeiro de 2016, com gravações do canto das aves no CBV e na região aeroportuária. “Uma parte dos dados de gravações já foi analisada, e podemos perceber que duas das espécies gravadas (Troglodytes musculus – Curruíra e Cyclarhis gujanensis – Pitiguari) possuem mudanças na estrutura do canto, quando cantam em área de aeroporto. O que significa que o ruído dos aeroportos força a mudança no canto dessas espécies”, afirma Renata Alquezar. Além disso, em Brasília, onde a pesquisa também é realizada, algumas espécies iniciam seu coro matutino mais cedo no aeroporto do que na área silenciosa, mostrando que a atividade humana gera modificações no comportamento das aves.

Outro resultado do estudo foi um levantamento de aves no Condomínio Busca Vida. Foram registradas 71 espécies, pertencentes a 28 famílias. Dentre os registros de maior destaque, estão os cantos de Cypsnagra hirundinacea (bandoleta) e Neothraupis fasciata (cigarra-do-campo). Ambas não costumam ser encontradas em áreas de caatinga, pois são restritas ao bioma Cerrado. “É interessante ver que os fragmentos de Cerrado próximos ao condomínio ainda suportam a presença dessas espécies. Isso indica qualidade ambiental. Pena que grande parte da vegetação que tinha do outro lado da rodovia tenha sido derrubada para construção de uma rodovia. Isso pode prejudicar bastante essas espécies, e pode causar o desaparecimento delas na região”, diz a pesquisadora.

Alquezar destaca que uma das áreas que mais lhe chamou atenção e que deveria continuar recebendo muito incentivo para manutenção da sua proteção é a área de dunas que fica próxima à guarita da Fonte dos Padres.

Próximas etapas

Durante a pesquisa, foram feitas capturas com redes de neblina e coletadas duas penas da cauda das aves. Essas penas serão levadas para Madrid (Espanha) ainda este ano, onde a pesquisadora fará análises laboratoriais para medição do hormônio Corticosterona, indicativo sobre o nível de estresse encontrado em aves de ambiente silencioso e aeroportuário. “A intenção é saber se as aves que estão submetidas ao ruído estão mais ‘estressadas’ dos que as aves de ambiente silencioso”, explica a pesquisadora.